O ex-governador do Paraná e ex-senador Roberto Requião (PT) diz ter se sentido desrespeitado com um convite feito pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que assumisse um cargo no conselho da hidrelétrica de Itaipu — e que teria sido melhor se não tivesse recebido a oferta.
“Não achei graça nisso. Uma sinecura dourada não é o objetivo de uma vida inteira de dedicação ao interesse público”, afirma ele à coluna. “O que eu iria fazer com o compliance de Itaipu, me reunindo de 60 em 60 dias com 12 pessoas? Não tinha o que fazer lá”, diz ainda.
“Eu acho que seria menos desrespeitoso não terem me oferecido nada”, completa.
Ex-emedebista, Requião se filiou ao PT em março do ano passado e promoveu a candidatura de Lula no estado paranaense. Ele afirma que, apesar do empenho, não reivindicou cargos no governo petista.
“Entrei no PT sabendo da alta rejeição do partido no Paraná, para ajudar a ganhar a eleição. Acho que fiz isso”, explica.
Mas tampouco esperava ser relegado a um cargo de expressão reduzida, diz. “O Lula me ligou uns 25 dias atrás dizendo: ‘Requião, eu vou te ligar para você vir a Brasília e eu, a Gleisi e você discutirmos a questão de como é que vai ficar o Paraná e tudo’. Mas acabou não me ligando. De repente, eu recebo essa sondagem [para o conselho de Itaipu]”, afirma.
De acordo com o ex-governador, a sondagem foi feita pela presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR). “Que, diga-se de passagem, é minha amiga”, ressalva.
Requião diz que a hidrelétrica é importante para o Mercosul e para as políticas nacionais. Destaca, ainda, “problemas sérios” que precisam ser enfrentados por uma boa gestão, como processos judiciais e negociações com países vizinhos. Na sua visão, no entanto, não caberia a ele assumir o cargo proposto.
“Você já pensou o cara sair da presidência do Parlamento Euro-Latinoamericano, do Senado da República e do governo três vezes para ser bedel de Itaipu?”, questiona.
Apesar da frustração com o convite feito por Gleisi, o ex-governador afirma que continua na torcida para que o atual presidente da República faça uma boa gestão do país.
“Quero que o Lula faça o melhor governo possível. Eu não podia aguentar mais o fundamentalismo, o [ex-ministro da Economia Paulo] Guedes, o liberalismo econômico completamente fora da caixinha, fora de sentido, fora da razoabilidade”, diz.
“Eu estou apoiando o Lula porque acho que é a esperança do Brasil. Por isso eu apoiei a [ex-presidente] Dilma [Rousseff] contra o impeachment estando no PMDB, por isso eu votei contra, por isso eu entrei na campanha, por isso eu entrei no PT”, continua.
Nesta quarta-feira (4), o ex-governador chegou a reclamar, nas redes sociais, sobre a sugestão de que se juntasse ao conselho de Itaipu, chamando o cargo de “boquinha de luxo”. Ele também publicou uma série de vídeos do passado, endereçados a petistas, em que defendida Dilma e exaltava outras figuras do partido.
“Eu não posso, com a carga que eu tenho, arranjar um cabide dourado em Itaipu. Isso faria com que eu perdesse a minha autoestima. Não tem cabimento”, diz à coluna.
“Não é ruim ganhar R$ 27 mil por mês sem fazer nada, mas é uma coisa que fere a autoestima das pessoas. Eu acho que é por aí, R$ 27 mil, R$ 30 mil [o salário]. Mas seria uma coisa que eu perderia o respeito por mim mesmo”, continua.
O ex-governador afirma que pretende continuar influindo na política nacional com suas opiniões. Como sugestão para o atual governo, diz que as privatizações encabeçadas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) não devem ser apenas paralisadas, mas revertidas.
“Não espero um governo revolucionário, porque nós temos circunstâncias nacionais e internacionais e inibidoras de algumas coisas. Tem que ser um governo moderado. Mas não pode ser um governo que faça, em nome de uma frente ampla, concessões ao capital financeiro”, afirma Roberto Requião.
Procurada pela coluna, Gleisi Hoffmann afirma que convidou Requião para que ele ocupasse a presidência do conselho de administração por considerar Itaipu uma empresa importante para o desenvolvimento do Brasil e para as relações com outros países. E diz discordar da afirmação de que o órgão não é importante.
Por Mônica Bergamo – Folhapress em 05 de janeiro, 2023